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Formação Em Constelação Familiares Módulo 09 Saúde

A cura está relacionada com a possibilidade de estarmos sintonizados conosco mesmo e com o espaço onde se vive, com nosso corpo, nosso ser, nosso interior.

Então, o que é a cura, senão este movimento de retorno ao nosso centro?

Eu sou terapeuta e não médica, então falo do lugar de terapeuta. O médico estuda muitos anos pra fazer o que ele faz e o terapeuta também deve estudar muito pra ser um bom terapeuta. Então, é deste lugar que eu falo, do lugar de alguém que estuda e procura colocar em prática, da melhor maneira possível, seus aprendizados. Meu enfoque vem das constelações familiares.

Falar da cura e estudar a seu respeito é uma coisa que me move há muitos anos. E é este busca por entendê-la que me trouxe até as constelações familiares.

Uma pergunta movedora é: Até onde eu, enquanto terapeuta, tenho o direito de ir neste movimento de cura com relação a uma pessoa?Podemos pensar assim: a cura está ligada a uma energia criativa que perpassa e abrange todos os seres vivos, todas as coisas deste nosso planeta, deste nosso mundo, deste nosso universo.

Quando uma pessoa tem uma dor, onde ela a sente primeiramente? No corpo. Talvez seja um braço que doa, ou o estômago, ou a cabeça. Às vezes é uma dor no peito. Então, ao sentir aquela dor, algo incomoda a pessoa, mostrando-lhe que algo está errado. Então, o que ela faz? Procura um médico ou um profissional da área que possa trazer um alívio para aquela dor no seu corpo.

Assim, o médico examina o lugar onde ela diz que está doendo, às vezes prescreve algum exame pra descobrir a causa daquela dor no corpo, às vezes passa uma pomada. Em outros casos é preciso um processo cirúrgico, precisando cortar, costurar.
Uma vez isto feito, a pessoa, em sintonia com este movimento sente que a dor passa e tudo se resolve.

Até aqui eu falei no físico, deste movimento em que nós vamos ao médico ou terapeuta em busca da cura, de um alívio para esta dor física e, em sintonia com ele, chegamos a um bom resultado.

Mas nós também podemos pensar na nossa alma, na nossa energia, no nosso sentimento. Que energia, que sentimentos que temos quando vamos ao médico e estamos abertos à cura? Com o que ou com quem estamos ligados? Com a força da saúde. Esta poderosa força.

Portanto, não é só o médico que encontra a solução pro nosso problema. Somos nós, com a nossa energia, a nossa alma em sintonia com o trabalho do médico que faz com que nós encontremos a nossa cura. Esse é o estudo.

Dores também podem vir da alma

Porém, existem dores que vêm da alma, que estão na alma. A maiorias das dores, ouso dizer, que se refletem no nosso corpo, estão ligadas com a nossa alma, com o nosso sentimento.

Quando se fala em alma, dentro das constelações familiares, está se falando nesta energia que perpassa e rege os sistemas familiares. Então, está ligada com o nosso sentimento.

Muito já se ouviu falar a respeito das dores da alma e aqui cabe uma pergunta: qual a causa ou as causas das dores da alma? Segundo Bert Hellinger, criador das Constelações Familiares, a causa primeira de uma dor na alma está ligada a uma separação. Tanto uma separação que tenha acontecido no presente quanto no passado. Talvez, ela tenha ocorrido na mais tenra infância.

Às vezes, num momento da vida em que a pessoa não tinha como se defender daquela situação, ocasionando um trauma. E um trauma, como vários estudos já demonstram, deixam sua memória no corpo. Essa memória fica em cada célula do nosso corpo.

Mas a vida segue em frente. Então, um dia, acontece alguma coisa que normalmente não tem muita explicação racional, como por exemplo: alguém fala alguma coisa, escuta-se uma música… Qualquer coisa pode desencadear a sensação daquele trauma, a sensação, não necessariamente a lembrança racional e consciente.

Aquilo então ocasiona uma mudança de comportamento na pessoa. É como se apertasse no corpo da pessoa. Aquela dor sentida e revivida de uma separação que, às vezes, ela nem lembra que teve, se reflete no seu físico. Seja num aperto no peito, na barriga, na coluna, no quadril. A sensação é de um aperto muito forte.

E o que a pessoa faz? Se imobiliza. Ou fica na cama ou para.

Do que nós estamos falando aqui? De algum momento na vida em que alguém precisou se separar de alguém. E a necessidade mais urgente de nós, seres humanos, é a necessidade de vinculação. É o que há de mais primordial, mais essencial em nós. Primeiro, a necessidade de nos sentirmos vinculados à nossa família de origem, depois à nossa família constituída dentro de um casamento, tanto quanto aos grupos dos quais fazemos parte: agremiações, religiões, times de futebol, partidos políticos…

Por este anseio pelo pertencimento, pela necessidade de vinculação, nós somos capazes de muita coisa. É uma necessidade que vai além, muitas vezes, da própria necessidade de estar vivo. Porque há pessoas que morrem por uma causa, ou por um sentimento familiar.

Uma criança, na mais tenra idade, foi separada dos seus pais por algum motivo e aquela separação doeu tão profundamente nela que ficou marcada no seu gene, na sua essência . Depois que esta pessoa cresce e se torna mãe ou pai, ela passa para seus filhos a memória desta separação a qual pode ser passada para várias gerações.

Então, o fato de uma pessoa ter sido excluída do sistema familiar, sem ter tido o direito de sentir-se vinculada, causa um trauma dentro deste sistema. E este trauma só vai poder ser superado quando outro alguém dentro deste sistema se sintonizar com este lugar do excluído e olhar de forma curativa pra isto.

Então, como é que se pode ter compreensão dessas coisas?

Quando é disparado um mecanismo de defesa do trauma que estava armazenado no corpo da pessoa por alguma situação, quando algo se aperta, se comprime dentro da pessoa é como se ela se preparasse novamente pra uma separação. Neste caso, não tem o que possa ser feito no sentido da cura. Algo dói e dói muito e a pessoa vai ao médico pra racionalmente poder solucionar o problema junto ao médico. Então, eu pergunto: Com que sentimento que ela vai até ele. Como é que está a sua alma, a sua disponibilidade pra cura?

Se ela tem dentro dela um sentimento de não se sentir vinculada, de se sentir separada, apartada, excluída, qual é a relação que ela vai traçar com o médico? De separação. De aniquilação da esperança.

Então, não tem o que o médico ou qualquer outro terapeuta possa fazer por ela para auxiliar esta pessoas a solucionar o problema, porque ela está comprimida dentro dela mesma, na sua solidão, no seu casulo, na sua exclusão.

Então eu pergunto: Pra onde olhar? Como tirar força pra seguir adiante?

Através do amor. Mas é um outro tipo de amor. É o amor do espírito. E quando se fala de espírito dentro de uma visão sistêmica não é exatamente o que se entende por espírito nas religiões espíritas, quando falam em reencarnação. Eu falo desta energia, desta força vital que rege tudo o que existe e que está ligada aos nossos ancestrais.

Portanto, se algum ancestral nosso foi excluído, isto ocorreu por algum motivo o qual estava relacionado ao que é certo e errado para aquele grupo. Mas, com este amor espiritual, este amor do espírito, universal que transcende todas as compreensões, nós podemos olhar pra isto sem julgamento.

Pois a doença, no final das contas, está no final de uma cadeia que se iniciou lá atrás, com a exclusão de alguém. Claro, pode ter-se iniciado conosco, com uma separação que se teve de um pai, uma mãe ou de alguém importante.
Uma criança que perdeu a mãe muito cedo, por exemplo, ou que foi abandonada pela mãe por algum motivo, qual é o sentimento que ela tem?

De morte. É um sentimento de culpa pelo fato daquela mãe não ter podido ficar com ele e então ele não se sente bom o suficiente pra ter sido amado por esta mãe a ponto dela ter lhe dado para adoção ou, no caso dessa mãe ter morrido, o sentimento de culpa pela sua morte.

Então, é como se, na alma desta criança, ela dissesse a si própria: “Minha mãe, ou meu pai, eu vou contigo. Eu te acompanho.” Este eu te acompanho “é no sentido da morte. “Se for preciso, eu morro junto contigo.”
Obviamente que isto não é uma coisa racional, mas quando um pai ou uma mãe já morreu e o filho ficou e não foi trabalhado isso nele, este é o sentimento – um impulso de ir em direção àquele ente querido que já se foi.

Neste momento, ele está sendo guiado por um amor “cego”. Não que o amor seja cego, a sua consciência é que está cega, pois é uma amor, uma necessidade tão grande de se vincular que, se precisar que ele morra pra se encontrar novamente com a mãe, ele morre.

Porém, às vezes, mesmo com este desejo inconsciente, ele não morre. Cresce, fica adulto, tem filhos mas aquele sentimento de não se sentir merecedor de estar na vida, de ser vitorioso, de ter prosperidade, de ter saúde, de encontrar a cura pras suas dores permanece nele. Então os seus filhos, às vezes todos, às vezes um sente aquele sentimento de não pertencimento do pai ou da mãe. Sentem que o pai ou a mãe estão correndo perigo e que, a qualquer momento, podem partir em direção à morte.

Assim, qual é a frase de um filho nesta situação? “Minha mãe, meu pai, eu vou por ti.” É uma busca muito intensa de se sentir vinculado. Se, pra se sentir vinculado, ele precisa morrer no lugar do pai o da mãe, ele faz.

Lembro-me do caso de um aluno meu que tinha uma doença degenerativa e a mãe era alcoólatra. Esta mãe não conhecia o seu pai e esse menino também não conhecia o seu próprio pai. Ele já estava numa situação que começava a ficar difícil. Já era adolescente mas seu corpo e suas feições ainda eram de criança.

Um dia, conversando com ele, eu lhe perguntei se ele queria ficar bom e ele me respondeu: “Mas, se eu ficar bom, como minha mãe vai me amar?”

Aquilo me calou profundamente, pois eu já trabalhava com constelações familiares àquela época. Então eu lhe respondi: “Mas será que ela não ficaria feliz em saber que, apesar de tudo, toda a luta dela está valendo à pena?”

Então um sorriso se irradiou no rosto desse menino.

Depois, eu perdi o contato com ele, não sei o que lhe aconteceu. Mas são pequenos pontinhos de diferença que talvez a gente faça na vida de uma pessoa sem ter a pretensão de fazê-lo, porque se tiver, já não é o mesmo movimento, porque a ajuda, no trabalho sistêmico, precisa estar ligada com a humildade.

Então, essas coisas são bem profundas. A pergunta é: Tem remédio? E a resposta é sim. E o remédio é o amor. Mas o amor espiritual, o amor maior. Porque isto que o filho faz, de querer ir no lugar do pai ou da mãe, é amor. Só que é um amor que está interrompido.

Vamos pensar em termos da água, da água que existe no nosso planeta. Toda ela é água, toda ela é limpa e toda ela é boa. Mas se esta água, em algum momento, encontra um obstáculo, o que acontece com ela? Fica parada. E, se ela fica muito tempo parada, vão se criando parasitas, sujeiras e outra sorte de coisas até o ponto de se olhar pra esta água e achar que ela não é boa, pois está poluída e suja e que está sendo prejudicial a nossa saúde.

Porém, esta água é a mesma água daquela fonte cristalina da qual ela nasceu, é a mesma água daquele rio e daquela cachoeira. Só que ali, naquele momento, ela está parada, estagnada.

Então o que é preciso ser feito?

Remover o obstáculo, pra que a água comece novamente a fluir. Assim, ela começa a fluir de novo. Ainda está suja, contudo, à medida que ela vai passando, ela volta pra terra, passa por pedras, vegetações até chegar no mar e se renovar e novamente nascer da fonte.

Assim é o amor, ele precisa ter liberdade pra fluir, ter liberdade pra chegar aonde ele precisa ir. Quando ele não encontra esta liberdade, quando ele encontra um obstáculo, quando ele se vê separado, ali se cria a doença, ali ela se manifesta.
Então, este movimento começa na alma do sistema.

Quando se fala em alma aqui, é a alma do sistema familiar, esta energia que rege o sistema familiar e faz com que todos tenham direito de pertencer. Assim, esta cura chegando na alma, traz consigo os movimentos da cura do espírito. Esta cura do espírito é no sentido dos nossos ancestrais, pra que nós possamos nos reconciliar com os nossos ancestrais, podendo olhar pra todos eles : os que estão vivos aqui conosco e os que não estão mais fisicamente mas que permanecem na memória, porque todos nós pertencemos ao nosso sistema familiar.

Assim, com este movimento de cura, a criança ou o adulto pode dizer então a frase curadora: “Meu pai, minha mãe, eu escolho ficar na vida em tua honra e fazer algo bom com isso. Eu fico com o que é meu e deixo contigo o que é teu e que somente tu tens a força pra carregar.” Este é o movimento de cura, o movimento da vida, o movimento de paz.

Por isso, quando falo deste tema, a cura, procuro falar com bem cuidado, colocando-me no lugar de aprendiz, pois só este bem maior tem tudo pra nos dar.

Assim, o que eu busco é a cura, em primeiro lugar, pras minhas dores e separações pra poder integrá-las. Depois, pras dores e separações dos meus filhos, do meu marido, dos meus amigos, dos meus alunos, dos meus pacientes e que nós possamos também em todo este nosso Brasil, em todo nosso planeta, nos sintonizarmos com essa cura e ver que ela é possível através do fortalecimento do lugar de cada um de nós.

Por isso, a cura é um movimento de pacificação com nossos ancestrais, com nosso pai e mãe. Porque, às vezes, o pai ou a mãe não foram aquele pai ou aquela mãe que, nós, em algum momento da nossa vida queríamos que ele fosse. Por exemplo, queria que ele fosse mais amoroso, mais trabalhador, mais firme, mais presente, que não tivesse me abandonado.

Mas o nosso pai e a nossa mãe, ao nos colocarem no mundo, nos deram tudo que eles podiam, nos deram tudo que eles tinham: a vida. Além disso não pode ser dado nem uma grama a mais. Dali pra frente começa a nossa jornada neste planeta, sendo cuidado por alguém e depois cuidando.

Se temos a sorte de sermos cuidados pelos nossos pais, ótimo. Senão, por pais adotivos ou por algum parente, amigo ou alguém que nos dê amor e nos ensine o que é amor.

Assim, cabe dizer aqui, que as constelações familiares não garantem a cura para nada. O que elas fazem é possibilitar uma reflexão à cerca do nosso lugar e cada movimento que se faz neste sentido é curador. Cada um no seu tempo, à sua maneira.