As Constelações Familiares e o Direito
Ao idealizar o Seminário de Direito Sistêmico que aconteceu neste mês de outubro, as primeira perguntas que me surgiram foram: Qual o meu lugar neste seminário? Qual o meu tamanho dentro dele?
E a resposta que me veio e que teve confirmação durante o encontro é: Meu lugar é de aprendiz e meu tamanho é pequeno.
Muito já tenho lido, vivenciado e trabalhado com Constelações Familiares desde que tive o meu primeiro contato com elas em 2006, mas eu sinto que, quanto mais eu aprendo, mais aumenta o espaço dentro de mim para o aprendizado e menor eu me sinto frente a esta misteriosa grandeza.
Eu venho da área da Educação e das Artes, então, penetrar no território do Direito, promovendo um seminário, gerou dentro de mim um agradável e instigante sentimento de penetrar num terreno desconhecido. São tantas leis, termos e procedimentos que não fazem parte do meu dia a dia. Por outro lado, as constelações já estão tão indelevelmente presentes no meu ser, que era como se eu estivesse tendo acesso a algo novo e estranho a mim dentro da casa dos meus pais, sentindo o aconchego, acolhimento e amor que emana deles.
Durante a palestra da juíza Maria Inês Linck, falando a respeito de como ela está se abrindo a este novo aprendizado, trazendo pra sua vara de família o trabalho das constelações, senti nela este mesmo sentimento de querer aprender e sentir-se pequena diante deste fenômeno. Tantos anos de experiência, mais de vinte só no Fórum Central de Porto Alegre, e o que eu via ali era uma pessoa sem medo de dizer que sabia pouco sobre o assunto e querendo aprender mais.
Também a juíza Lizandra dos Passos, ao abrir a sua fala no seminário, trouxe o seguinte questionamento: “Quando vi o título do seminário – Seminário de Direito Sistêmico: as constelações familiares a serviço do judiciário, fiquei me perguntando: elas estão a serviço do judiciário ou é o judiciário que está a serviço delas? Então, examinando vi que sim, elas estão a serviço dele e o judiciário está a serviço delas também.”
Parece um trocadilho mas eu fiquei examinando quem está a serviço de quem e se eu concordava com aquela afirmação. Então, se nós fizermos uma reflexão sobre o que é servir, podemos chegar a algumas conclusões. Por exemplo, na natureza, quem serve mais? O sol, a água, o ar, o fogo que, por integrarem a grandeza, nos dão aquilo que precisamos para viver. Já na família, quem está mais a serviço senão os pais, que nos dão a vida e tudo que dela advêm?
Dentro das Ordens do Amor, esta é a lei da Hierarquia, os grandes dão e os pequenos recebem.
Então, de que maneira as constelações estão a serviço do judiciário? Trazendo mais humanidade, mais luz e humildade às pessoas que conduzem os processos.
Quando um juiz traz um caso para uma constelação, está também se colocando como menor perante o sistema familiar ligado com o caso. Não é pequena a responsabilidade de um juiz no julgamento de um processo. São vidas e destinos envolvidos. Quando ele consegue compreender os verdadeiros motivos os quais estavam ocultos e que se revelam dentro de um trabalho de constelação, fica mais fácil pra ele se colocar no seu justo lugar, nem maior e nem menor e, desta maneira, perceber onde está a solução para o conflito.
Assim, também , já temos várias experiências de constelações auxiliando na conciliação de casais nos processos de guarda de filhos, pensão e outros. Também já existem lugares, como a cidade de Caxias do Sul, onde os apenados, para receberem liberdade condicional, precisam passar por uma constelação.
Por isso, pra mim fica claro que as constelações estão sim à serviço do judiciário. Mas e o judiciário, em que medida está à serviço das constelações? Na medida em que abre espaço nos seus fóruns e tribunais para que elas entrem. Também por intermédio de seus servidores capacitando-se para trabalhar com esta postura sistêmica.
Então, ganha o judiciário por poder lançar mão de uma ferramenta tão poderosa e ganham as constelações por poderem incorporar no seu trabalho, mais este espaço de atuação com tudo que isto envolve.
Comprova-se, assim, a afirmação de Lizandra dos Passos bem como vem à luz a presença de outra lei sistêmica: o equilíbrio entre o dar e o receber.
Já o constelador Almir Nahas, convidado especial do seminário, durante a realização das constelações, deixou exposto o grande amor que une os membros dos sistemas familiares e as graves consequências sofridas pelo sistema quando um ou mais de seus membros são excluídos. A isto, Bert Hellinger denominou Lei do Pertencimento. Então, num processo judicial, não se pode deixar nenhuma das partes de fora.
Fica a sensação de um longo caminho a ser percorrido, cujo solo é fértil para o plantio. Fica também o sentimento de gratidão por estar participando praticamente do início deste processo, também por aqueles que vieram antes de mim desbravando caminho e pelos que vêm chegando, depositando confiança e vontade de aprender.
