
Fabi, escreve alguma coisa sobre a depressão?
Esta foi a pergunta em forma de pedido que me fez uma jovem amiga que acompanha o meu trabalho.
Tinha outros assuntos em mente já prontos pra transformarem-se em textos. Mas o assunto ficou circulando pela minha cabeça, pulando de um canto a outro e agora me diz: “Já chega! Eu quero sair e me transformar em algo que possa chegar aos corações e mentes das pessoas!”
Pretencioso, ele, não? Quem garante que chegará?
Enfim! Cumpro a sua vontade e escrevo, sintonizando-me com tantos e tantos seres humanos que padecem desta situação.
Do ponto de vista sistêmico fenomenológico, a doença é algo que não está sendo visto, incluído dentro do sistema. Na maioria das vezes, tem a ver com um vazio deixado quando não foi possível tomar a força do pai, da mãe ou de ambos, principalmente na infância ou adolescência. Aquela sensação de vazio que parece que nada pode preencher.
A depressão é um perder-se de si mesmo. É como estar-se traçando uma rota num sentido e esquecer o ponto de partida. Parece que todo o resto não faz sentido, perde a cor, o brilho. É acordar de manhã sem ânimo para a vida, para o trabalho. É não se sentir disponível para o amor, para a vida, como se tudo que nos dessem fosse incapaz de preencher o que nos falta e que, na maioria das vezes, não se tem nem ideia do que seja.
Algumas pessoas pensam que a depressão é chorar e ficar triste. Mas às vezes, a sensação de abatimento e menos-valia é tanta, que a pessoa não consegue nem chorar ou dormir.
Assim, se algumas destas descrições corresponde ao que você sente, por favor, peça auxílio a alguém em que você confie. Isto não é nenhuma vergonha ou demonstração de fraqueza. Muitos são os profissionais que podem lhe auxiliar: médicos psiquiatras, médicos e terapeutas que investigam que tipos de nutrientes você está precisando repor, nutricionistas, psicólogos, terapeutas holísticos. Eu, aqui, falarei a partir do meu lugar de Neuropsicopedagoga e Consteladora Sistêmica.
Dos atendimentos que tenho feito e alunos que tenho acompanhado, percebo uma imensa dor por não ter tido a possibilidade de viver com plenitude a sua fase de criança ou adolescente porque teve que assumir um lugar que não era o seu. Por exemplo, os pais terminam o relacionamento, o pai sai de casa e o filho, na esperança de ver a mãe feliz, inconscientemente, assume o lugar deixado pelo pai.
Lembrei-me de uma historinha que aconteceu bem próxima a mim, em que a mãe, após ter decidido separar-se do marido por ter sido traída, busca uma maneira delicada de contar ao filho. Então ela diz: “Meu filho, eu e o teu pai decidimos nos separar, pois não nos amamos mais o suficiente para continuarmos casados. Mas o nosso amor por ti continua, tu continuas sendo o nosso filho querido.” O menino, então, perguntou: “Mãe, o pai não vai mais voltar?” “Não.” Respondeu-lhe a mãe. “Ah, tá!”, disse o menino. “Então eu posso botar a minha escova de dentes no lugar da dele no banheiro?” A mãe sorriu e o abraçou, concordando com a cabeça.
Quando eu escutei esta história, era ainda uma adolescente. Achei muito engraçadinho e um gesto de grande maturidade do menino. Mas hoje, depois de tantas vivências e aprendizados, intuo o que tinha por trás daquele pequeno ato: “Mãe, agora eu cuido de ti.”
Claro que a mãe em questão é uma pessoa que tinha um tanto de clareza pra falar da separação daquela maneira para o filho. Também teve a dignidade de calar-se nas vezes em que sofria pela ausência do pai do menino, que tantas e tantas vezes, eximia-se da sua responsabilidade enquanto pai. O garoto também teve a boa sorte de ser acolhida pelos avós maternos e paternos, tendo passe livre para circular por ambas as famílias. No entanto, o que trouxe pra ele de consequências o vão anseio de cuidar da mãe como se fosse o pai? Talvez algum peso sobressalente a carregar, algumas angústias, e o hábito de fumar e de beber, coisas que aprendeu também com os dois lados da sua origem.
Porém, não teve grandes conflitos existenciais, pelo menos aparentes. Sua mãe casou de novo e ele então ganhou mais uma referência masculina. Encontrou uma mulher e ele também, a seu tempo, teve uma profissão, casou e constituiu família. No dia do seu casamento, estavam lá a mãe, o pai e o padrasto. E, na hora da bênção, ele pediu que os dois estendessem a mão para abençoá-lo: a mãe, o pai e o padrasto. Assim, seu coração seguiu leve para levar adiante a vida e fazer as necessárias reconciliações com seu passado.
Contudo, se esta mesma situação tivesse acontecido com um menino cuja mãe, por estar tão machucado e não ter tido condições de agir com tamanha grandeza, falasse mal do pai, ou o pai da mãe, dificultasse o fluxo do menino de um lar ao outro? Será que ele teria esta mesma liberdade de escolher ser feliz? Ou se veria preso a um sonho secreto e inconsciente de ser o responsável pela felicidade da mãe, ou pior, pela infelicidade dela.
Talvez você possa estar lendo isto e achando um absurdo, pois ninguém, em sã consciência, faz isto. Mas cabe frisar aqui, que estamos falando de um amor tão grande de filho, capaz de imaginar que tem este poder. As crianças acreditam que têm superpoderes. Só que, na maioria das vezes, esta criança cresce e no seu inconsciente ainda carrega aquela esperança.
Quantas vezes vi alunos ou pacientes me afirmarem com a cabeça erguida: “Eu já superei tudo o que aconteceu. E quanto ao meu pai… eu não preciso dele.” Porém, aquela criança que colocou a escova de dentes no lugar da do pai e assumiu, inconscientemente a missão de cuidar da mãe, ainda anseia por sentir a presença do pai, mas teme com isto perder algo que ela julga ainda mais importante, o amor da mãe.
Todavia, muito provavelmente, nenhum deles, mãe, pai ou filho têm consciência desta dinâmica oculta que permeia o relacionamento. O que parece estar no nível da consciência é uma sensação de vazio que ele não consegue explicar e que muitas vezes tenta preencher com uso de drogas, bebidas, relações passageiras e outras coisas que só têm um efeito provisório e, muitas vezes, destrutivo.
Assim, são muitos os caminhos pra quem verdadeiramente busca um alívio pra essa dor. Mas ao chegar num ponto, o movimento a ser feito é um só: Olhar para trás, perceber tudo o que já caminhou, quem lhe auxiliou pra chegar até este ponto e, principalmente, quem lhe deu a vida. Olhar sem a expectativa de que pudesse ter sido diferente, porque na realidade, não foi. E a realidade, por mais dura que seja, traz com ela a força da superação, esta superação que chega de forma dolorida ou mansa, trazendo com ela a reconciliação do passado. Assim, devagarinho, é possível sentir algo novo brotar, pequenininho à princípio, talvez: GRATIDÃO. Esta pequena chave que abre tantas portas que nos conduzem à felicidade e à paz.

Constelações familiares e sexualidade
Eu nunca tinha parado para refletir mais profundamente a respeito deste tema até ser convidada…

Renunciando ao lugar de herói
Durante boa parte da minha trajetória neste chão, quis fazer algo grandioso que fizesse uma…