
Naquele dia, depois de tantos e tantos trancada dentro de casa, ela saiu pela manhã, para dar uma breve caminhada pelas redondezas. Sua pequena cidade do interior estava na lista das que não tinham registrado nenhum caso de Coronavirus, só por isto ela sentiu-se um pouco mais liberada para dar esta pequena escapada.
Assim, à medida que ela caminhava, começou a perceber algumas coisas se explicitando no âmbito familiar. Mas Deus é tão maravilhoso que, se a gente abrisse os olhos, poderia perceber. Era a luz chegando… e ela refletia sobre o fato de que uns já a podiam enxergar enquanto outros ainda não.
“A paz é uma chave.” Esta frase lhe vinha como uma música no pensamento.
Agradecida a Deus, ela caminhava pelo bairro e via portas, que antes viviam fechadas, janelas onde não se via praticamente ninguém, agora abertas e cheias de acolchoados e travesseiros tomando sol, roupas nos varais, crianças brincando nos quintais, casais sentados nas varandas conversando, pessoas mais de idade…
Maravilhada, ela pensava: “Meu Grande Deus, que coisa linda isto!”
Parecia que ela estava revendo aqueles tempos de outrora, quando a gente vivia de verdade, porque a impressão que lhe dava, às vezes, é que nós estivéramos num faz de conta, que a humanidade estava num mundo holográfico: projetando imagens, vivendo daquela virtualidade mas, chegando o outro dia, na maioria das vezes, nem lembrávamos mais do que havíamos sentido ou vivido.
Claro, ela sentia por aqueles irmãozinhos que se foram, por algumas condições ou falta de condições que a gente percebe no Brasil, nos hospitais, os médicos, enfermeiros… Tanta luta, tanta dor, tanto amor…
Muito ela já havia chorado por aquilo. “Eu sinto muito!” Contudo, ao mesmo tempo, voltava a sentir-se agradecida a Deus por estarmos tendo condições de passar por aquilo tudo, pela bondade Divina.
Sim, a bondade, porque tudo aquilo que se estava passando já estava sendo sentido há muito por algumas pessoas. Há tempos que lhe rondava um sentimento de que as coisas não iam continuar por muito tempo do jeito que estavam, porque a humanidade estava se perdendo de si mesma, perdendo sua própria humanidade.
Embora ela soubesse que não seriam todos que iriam despertar para a realidade das coisas, intuía que muitos já sentiam a força. Examinando-se, dava-se conta de que ela mesma tinha um tanto de coisas adormecidas na sua consciência e no seu coração… com coragem buscava-se dentro de si.
Então, novamente lhe inundava uma onda de gratidão a Deus por estarmos passando por aquela situação e vendo a possibilidade de alguma mudança para o lado positivo por parte de algumas pessoas, algumas muitas pessoas, ousava pensar. Por isso, ver aquelas roupas nos varais, aqueles dias ensolarados. Apesar da seca, poder vivenciar aqueles dias ensolarados, quando se podia abrir as portas, as janelas e os varais cheios de roupas e deixar circular o ar dentro das nossas casas, a força do Sol… A lua tão
próxima de nós, o sereno caindo no chão. Diante da seca, ela levantava de manhã e percebia que as folhas estavam molhadinhas, que a primeira camada da terra tinha humildade.
Então, todas aquelas coisas, para ela, estavam dentro da força divina, trazendo condições de passar pelo que estávamos passando e continuar acreditando que a vida é uma das coisas mais lindas, presente que Deus nos dá.
Que Deus e a Virgem Maria nos dê condições de passar por tudo isto, diziam seus olhos que já tinham visto tanto nesta vida. Lembrava-se das palavras de sua velha avó, que há muito já tinha partido: “Tudo passa e, daqui a pouco a gente vem estar junto de novo.
Força e paciência, queridos!”
E as lavadeiras continuarão lavando e quarando suas roupas na beira dos rios.