51 99966-3152

Eu nunca tinha parado para refletir mais profundamente a respeito deste tema até ser convidada a participar de um seminário sobre o tema realizado com profissionais da área da assistência e educação social.

Como estava recebendo a visita de uma  grande amiga e também consteladora, Yolanda Castro, e também pelo fato do número de inscritos para a oficina ter sido bastante alto, resolvi convidá-la a dar a palestra comigo. Portanto, o presente texto é fruto de nossas reflexões e do resultado da apresentação da oficina temática.

A palestra versou sobre as ordens do amor e sua relação com a sexualidade: Como a não obediências das três leis universais que regem os sistemas familiares – Pertencimento, Hierarquia e Equilíbrio – pode afetar o bom desenvolvimento da sexualidade.

Todo ser humano, quando nasce, tem como necessidade primordial o sentimento de vinculação à mãe. Um dos primeiros atos da criança, após o nascimento, é procurar o olhar da mãe e, na sequência, buscar o seu seio. Se pudéssemos ter um tradutor simultâneo neste momento, o que estas atitudes estariam querendo dizer? “Minha querida mãe, através do teu olhar, eu tenho a certeza de estar vinculado a ti e, pelo teu leite, eu tomo a vida que de ti brota.”

Com estes atos tão singelos e, ao mesmo tempo, tão intensos, firmamos nossa entrada na vida. Porém, nem sempre as coisas acontecem assim, de forma tão fluida. Muitos são os fatores que estão sujeitos a interferir nesta vinculação primordial, desde pequenas a grandes coisas como, por exemplo, um nascimento prematuro, onde a criança precisa ir para a incubadora, alguma doença, tanto da mãe quanto do nenê, a doação da criança para adoção, a morte da mãe e tantas outras coisas que fazem parte da vida.

Outras vezes, não é nestes momentos primeiros da vida que algo acontece impedindo que esta vinculação se dê de forma completa, por vezes algum impedimento nos primeiros anos de vida também traz consequências sérias neste sentido como, por exemplo, uma viagem prolongada ou a separação dos pais.

O que acontece então, no sentimento da criança que busca desesperadamente este contato pra sentir-se incluída na vida? É como se algo dentro dela desistisse e ela dissesse pra ela mesma: “Agora não adianta mais, tudo está perdido.”Então, ela se fecha para este contato. Cabe ressaltar aqui que tudo isto se dá em nível inconsciente, pois obviamente a criança não tem consciência destes movimentos internos, apenas sente a premência de sua realização.

A partir daí, mesmo que a mãe ou o pai queiram e busquem este contato com ela, já não lhe é mais possível, pois a porta está fechada sem que que ela mesma o saiba. Porém, algo dentro dela clama por isto. Como ela não tem noção do que lhe ocorre, isto se traduz em comportamentos muitas vezes agressivos, irritadiços, ou na manifestação de doenças, problemas comportamentais, distúrbios psíquicos e, em alguns casos até em morte.

Assim, esta criança cresce e vai levando sua vida, buscando nas relações com as pessoas e nas situações da vida, aquele vínculo que não lhe foi possível ter.

Já podemos perceber aqui, o que a falta de vinculação materna/paterna pode acarretar à pessoa. Como ela não tem o que acha que precisa de seus pais, também não consegue ver neles o lugar de superiores a ela, daqueles de onde a vida provém. E o resultado? O rompimento da segunda lei sistêmica: a hierarquia.

Então, muitas vezes, percebe-se nas famílias os filhos ocupando o lugar dos pais e os pais o dos filhos. Não existe amor nestes casos? Claro que sim. Porém, pela desordem, ele não encontra o caminho do fluir.

Consequentemente, a pessoa segue sua caminhada na existência em busca de saciar aquele vazio interior. Algumas vezes se afunda no trabalho, às vezes nas drogas, outras em relacionamentos afetivos problemáticos e é como se andasse em círculos, voltando sempre ao ponto de partida e, cada vez com um sentimento mais de impotência que, vez por outra, pode se traduzir em prepotência ou sentimento de menos valia ( Ninguém é bom o suficiente pra mim ou ninguém me ama, eu não valho a pena).

Desta  maneira, por mais que a pessoa tente, não encontra uma realização na vida afetiva e, consequentemente, a sua sexualidade ainda está na fase infantil, ou ela se doa demais nas relações e sente-se exaurida, ou espera receber aquilo que ninguém tem pra lhe dar.

Chegamos então à pergunta decisiva: O que fazer? Tem solução, uma vez que, em decorrência da não obediência às duas primeiras leis sistêmicas, a terceira, que é o equilíbrio entre o dar e o receber, pressuposto básico para se ter uma maturidade sexual, também não está sendo cumprida?

A resposta é sim. É possível  se chegar a uma solução através de um reordenamento do fluxo do amor. Não se trata de voltar à infância como uma criança indefesa, mas como um adulto. É dar-se conta de que o essencial  já nos foi dado pelos nossos pais: a vida.  Trata-se de nos colocarmos pequenos frente a esta grandeza, sentindo assim a imensa força que brota desta doação. É sentirmo-nos gratos por esta vida, que não estaria acontecendo sem que eles e, especialmente a nossa mãe, não o tivessem permitido. É colocando-nos pequenos frente a isto que poderemos encontrar a força para nos erguermos e nos tornarmos grandes diante de um novo relacionamento num outro nível de vínculo, na condição de adulto.

Desta maneira, poderemos esperar de um parceiro ou parceira, uma ralação de troca de equilíbrio, que possa verdadeiramente nos fortalecer e nos permitir dar continuidade a esta força da vida,  através dos filhos, de uma relação sadia e da realização de nossos sonhos.